ANA DIAS BATISTA

FATO GATO, 2023

Colaboração com João Loureiro

Capela do Morumbi, Museu da Cidade, São Paulo.


No telhado: estrutura de aço, bancadas de isopor e poliuretano, forração, molas, bolinhas de borracha, vasilhas para água e ração. Aprox. 6,5 x 17 x 14 m. Execução: Dica ARR.

No jardim: plantação de erva-dos-gatos (Nepeta cataria). 78m2. Implantação e manutenção: Ana Kamitsuji. Jardinagem: José Jairo da Costa Loiola, Raimundo Nonato Vilar da Costa, Roque de Jesus Santos.

No interior da Capela: passadeira de forração, varal para secagem de maços de erva-dos-gatos.

Pendurado na estrutura do telhado, nos fundos da Capela: "Gato arrepiado", tapete com franja e debrun, 5,5 x 1,55 m.


Em Fato Gato, eu e o João olhamos para a população de gatos de rua que circulava pela Capela do Morumbi, e para os modos como os funcionários (sempre um vigia, uma faxineira e um educador ou educadora) interagiam com ela. Olhamos para aquilo que se passava no espaço cotidianamente, longe do público esporádico das exposições.

A Capela do Morumbi é resultado da sobreposição de duas edificações: paredes de taipa de pilão do começo do século XIX, que podem ter pertencido a um paiol ou talvez tenham se arruinado antes de terminadas (donde a presença dos buracos na taipa); e paredes de alvenaria com portas e janelas em estilo eclético, pseudocolonial, acrescentadas nos anos 1950 por Gregory Warchavchik - o mesmo arquiteto que, nos anos 1920, havia construído a primeira casa modernista na cidade. A intervenção de Warchavchik foi financiada pelos empresários que lotearam a antiga Fazenda, e foi entendida como restauro, atribuindo-se ao prédio em ruínas, arbitrariamente, uma função original.

A Capela não chegou a ser consagrada e tampouco se firmou como ponto turístico, tendo solicitações de tombamento sucessivamente negadas. Nos anos 1980, o prédio passou à gestão do Museu da Cidade de São Paulo, que convida artistas contemporâneos para ocupá-lo. Localizado num bairro residencial de alto padrão, de difícil acesso por transporte público, o espaço é pouco visitado, exceção feita aos gatos que vivem num terreno baldio das redondezas. Às duas edificações que formam a Capela, sobrepusemos mais uma.

  • Na nave da Capela havia apenas uma passadeira de carpete. Junto das paredes (pelos cantos, à maneira dos gatos), ela conduzia o visitante através da porta lateral, para fora do prédio.

  • No jardim, cultivamos erva-dos-gatos, uma planta com efeito psicoativo em felinos.

  • Construímos uma estrutura em cima do telhado, com bancadas, tocas, brinquedos e uma rede.

  • Os gatos evitavam estranhos. Apareciam no fim da tarde e ocupavam a escada, uma sequência de plataformas retangulares ligada à estrutura do telhado, onde os funcionários punham água e comida.

  • Na Capela, panos e capachos costumavam ser pendurados para secar nas grades do fundo do terreno.

  • O "Gato Arrepiado" pendia do telhado no lado oposto do prédio. Eram duas silhuetas de gatos penduradas pelas patas, as franjas esticadas pela gravidade.

  • Semanalmente havia poda da erva-dos-gatos. Os maços eram postos para secar dentro da Capela, na salinha à direita da nave.

  • A sala ficava fechada e os visitantes podiam ver os maços através dos vãos da porta. A erva seca era oferecida aos gatos. Parte dela foi compactada para outro trabalho.